1. quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

    As vezes escrevo, outras esqueço!

  2. Sorrimos.

    quinta-feira, 2 de junho de 2016

    Você sorri.

    - Sua voz está melhor hoje. Acordou...descansada?
    - Sim...hoje teve manifestação. Muita mulher sendo linda, companheira e feminista junta.
    - Era hoje? Que legal! Por que você não me falou?
    - Esqueci, sei lá.
    - Ah, me conta da próxima vez?
    - Quer ir?
    - Acho que não. Afinal, sou homem e não entendo muito do assunto. Queria saber só pra poder te lembrar.
    - Pra me lembrar da manifestação?
    - Não não. Pra te lembrar que você não está sozinha.

    E eu sorrio.

  3. O cansaço (e o alívio) de ser quem somos!

    quarta-feira, 1 de junho de 2016

    “Be yourself; everyone else is already taken.”
    Oscar Wilde.

    Hoje eu acordei em um daqueles dias em que é difícil ser quem eu sou. Todo mundo sabe do que eu to falando: aqueles dias em que parece que ser quem somos é o maior fardo do mundo.
    Não me entenda mal, estava muito feliz. Tomei decisões importantes (e difíceis, diga-se de passagem) nesta semana, mas não tenho dúvidas de que foram certas.
    É só que em dias como este fico um pouco cansada. Cansada de achar que talvez eu seja um pouco expressiva demais. Ou defenda minhas idéias com muita empolgação. Cansada de ir dormir pensando que devia ter ficado um pouco mais calada naquela conversa durante o almoço. Cansada de ouvir sobre ativismo e luta mas ser a única a se colocar na linha de frente. Cansada de ser punida por isso.
    No meio deste cansaço e já deitada na cama, você me ligou. Depois de três frases, já sabia que era um dia daqueles. Eu nem queria explicar, pois ainda não sei exatamente como você lida com essas coisas e as chances de eu me sentir exagerando ou fazendo drama eram grandes. Você não aceitou (e obrigada por isso) e não sossegou enquanto eu não desabafei. Terminei de falar e você ficou em silêncio um tempo, pra depois dizer:
    - Lembra quando você citou uma frase que dizia algo sobre não se interessar por homens que se sentissem intimidados por você?
    - Aham, mas..
    - Talvez você deva aplicar isso a todo o resto. Talvez você não deva perder tempo com pessoas ou lugares que fazem você se sentir desse jeito.
    - É que cansa, sabe.
    - Eu sei, e talvez você tenha mesmo que dizer algumas coisas com mais calma, mas isso não pode ser motivo pra você ser menos... você. Isso vai te cansar mais ainda!
    E eu ri. De cansaço, de certeza e de alívio. É bom saber que mesmo nos meus momentos de cansaço ou desespero, ainda vai ter gente pronta pra me acolher.
    Hoje eu acordei sabendo que é realmente difícil ser quem sou e que talvez tenha que aprender a lidar com as coisas de forma mais mansa, sim. Mas também me lembrei que não tenho escolha. Só posso confiar que a paixão e a certeza que carrego comigo serão suficientes pra me dar paz no fim do dia.
    E se por algum motivo não forem, espero ter você do outro lado da linha.

  4. Quando não se fala nada, mas se diz tanto...

    terça-feira, 17 de maio de 2016

    Nós dois deitados na cama, em silêncio. Em um daqueles momentos em que não se fala nada mas se diz tanta coisa...
    Eu estou olhando pra você, tão de perto que você repete "acho tão legal quando dá pra ver meu reflexo dentro dos seus olhos cor de jabuticaba!"
    Já ouvi isso muitas vezes, mas quando é dito assim, com a sua alegria das descobertas cotidianas, soa diferente. Soa leve, como que se eu tivesse que escolher uma frase para ouvir pelo resto da vida, seria essa.
    Sorrio, pois ao contrario de você, não consigo ver nada. Ou melhor, vejo tudo. Seus olhos são tão claros que não vejo reflexos, só os tons de verde que se encontram e se espalham neste pedaço tão pequeno de você. Me perco por alguns segundos pensando na imensidão que a cada dia eu encontro quando te olho nos olhos desse jeito. Você sorri, mas não diz nada. Já sabe o quanto odeio ser brutalmente despertada dos meus devaneios. Que loucura, né? Tão pouco tempo e sabes tanto de mim. 

    O que não sabe é que enquanto te olho da plataforma oposta da estação, sorrindo e se despedindo em silêncio, com os olhos longe demais pra ver qualquer coisa, tudo o que eu queria era voltar pra cama.

  5. Não é novidade...

    segunda-feira, 9 de maio de 2016

    Não é novidade. Os dias passam, ficam mais leves e eu ainda não sei abrir mão da felicidade pela escrita. Ainda bem! Escrita nenhuma vale mais que olhos claros sonolentos.
    Não é novidade. Os dias passam, ficam mais leves e eu sei muito bem o motivo.
    Ele não é de humanas, mas é tão humano. Nunca leu Machado, mas entende perfeitamente quando cito Capitu. Não faz questão de Arctic Monkeys, mas me fez lembrar da calmaria do Jack Johnson. Ele não viu metade das séries que amo, mas anotou todas as indicações. Ele odeia se explicar, mas não se importa em repetir três vezes algo que não entendi. Não fala inglês, mas vive me pedindo dicas de estudos. Nunca se interessou por trabalhos acadêmicos, mas faz questão de ler os meus. Ele é muito inteligente mas não se importa em dizer, sem rodeios "não entendi muito bem seu argumento aqui, me explica?" e 15 minutos depois deixar minha confusão ainda maior com a pergunta "tem certeza que não quer dar aula?". Ele não costuma planejar o futuro, mas vira e mexe me pergunta quando é que eu vou leva-lo para conhecer a Irlanda. Ele chegou de mansinho, mas transformou muita inquietude em...paz.
    Eu? Vejo tudo isso e percebo que não é novidade: os dias passam, ficam mais leves e eu começo a esperar que apesar de tudo, ele decida ficar.

  6. terça-feira, 8 de março de 2016

    Hoje peguei o trem com um cadeirante. E nem foi no primeiro vagão. Ele embarcou no meio do trem mesmo, como todo mundo. Que absurdo! Entrou achando que ia encontrar um lugar para "estacionar" sua cadeira. Folgado, né? Claro que não deu, teve que ficar perto da porta mesmo. Todo mundo que tentava entrar no trem dava de cara com ele ali, no meio do caminho, atrapalhando. E todos olharam feio, bufaram, e tentavam entrar mesmo assim. Afinal gente com mobilidade reduzida deve ficar em casa, trancado, onde não atrapalha ninguém, não é mesmo?

  7. O que me deu?

    quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

    Há duas semanas presenciei, na mesma noite, dois crimes sendo cometidos na minha frente.

    O primeiro, com um grupo de rapazes assaltando, a mão armada, dois carros em uma estrada. Esse me deu medo. Medo de que quem quer que fosse resolvesse levar também o próximo carro, ou seja, o meu. Me deu medo de que ali, no meio do nada, eu perdesse minhas forças e não conseguisse retornar o carro. Medo em saber que todos os atendimentos policiais são feitos daquela forma - sem paciência, preparação ou empatia.

    O segundo, já em um bar no centro da cidade, teve homem batendo em mulher. Esse me deu nojo. Nojo do homem que machuca e fere a integridade da companheira, certo da impunidade. Nojo de todos os outros homens que só conseguiam repetir "se ela está com ele, é por que gosta!" como se soubessem o que é ser mulher nesse mundo.

    Mas os dois me deram: orgulho. Orgulho de quem estava comigo e exigiu atendimento humano aos policiais. De quem correu e me ajudou a socorrer uma moça inconsciente no meio da rua. Orgulho de quem gritou e não aceitou a normalidade da agressão física, mesmo que cotidiana.

    Me deram também esperança, pois ao saber que a mesma moça estava levando adiante a denúncia ao companheiro, só consegui pensar: nem tudo foi em vão.