1. Impossibilidades da vida adulta

    sexta-feira, 28 de setembro de 2018

    Tem sido difícil. Usei a palavra impossível algumas vezes nos últimos dias mas decidi que precisava bandona-la de vez. Abandonar palavras deve ser mais fácil que abandonar os sentimentos que as carregam. Pessoas então - me pego pensando - são praticamente impossíveis de abandonar. Tá vendo? Olha ela aí de novo. Impossível! Impossível! Impossível!
    Te dizer adeus (já que você não aceitou o até logo) foi uma das decisões mais difíceis que tomei na vida. Quem me conhece, pelo menos um pouco, sabe como sou apegada. Costumava achar que esse apego era uma característica que eu deveria necessariamente combater. Apegar-se às coisas é deselegante, como se um tom teimoso e sem afeto paira-se sobre as relações. Soa até triste, não é? E foi. Foi muito triste! Mas foi também a minha maior lição sobre desapego na vida. Foi abandonar um desejo tão forte simplesmente porque não parecia certo. Foi, como disse, praticamente impossível. Ah, esse advérbio que, colocado antes, muda todo o sentido da frase. Você, claro, riria abertamente dessa minha última frase. "As vezes é impossível negar que você se formou em letras!" Pra variar, olha ela aí, sorrateira, dentro do seu discurso também.
    Seu discurso, claro, foi impecável. A formação em publicidade é muito útil nessas horas - e por favor, observe como eu também sei usar sua escolha de profissão pra fazer piada nessa situação nada engraçada. Percebo então, que posso ficar horas recriando memórias e citando graciosidades pra evitar falar o que precisa ser dito.
    Ao contrário do que imaginava, chegou infelizmente o dia em que eu diria pra alguém que gosto muito: me desculpe, mas é impossível. A Isabela de dez anos atrás se enfiou em relacionamentos bem menos promissores sem nem pensar duas vezes. A Isabela de vinte e cinco pondera e decide, com tristeza, que não vai dar. Você protesta, claro. "São 500 km, pelo amor de Deus", te ouço dizer no telefone, depois da meia noite, mas pra mim, eu sei que é muito mais. É a minha luta contra a intensidade e a beira do precipício já muito conhecido. Eu sei que você sabe também, mas talvez você não tenha deixado o garoto de quinze anos de lado. Sorte sua. A minha garota de quinze anos me olha com certa desaprovação, mas também empatia, como quem diz "não é impossível, só não é o que você quer agora". E é o suficiente, porque escrever sobre você ainda dói, mas não muda nem um pouco a veracidade do que te disse naquela última ligação: não estou pronta. Mas espero que consiga lembrar, mesmo depois desse fim que veio antes do começo, que eu não me apaixonar por você era praticamente impossível.